História da Arte e da arquitetura no Contexto da Sala de Aula Invertida

Marcelo Albuquerque Corrêa

CORRÊA, Marcelo Albuquerque. História da Arte e da arquitetura no Contexto da Sala de Aula Invertida. Revista Pluri, v. 4, p. 47-55, 2021.
https://revistapluri.cruzeirodosulvirtual.com.br/index.php/pluri/article/view/162

Resumo

A Metodologia de Ensino/Aprendizagem desenvolvida para esta Disciplina percorre toda a História da Arte, da Arquitetura e das cidades, desde a pré-história até os dias de hoje. Por ser muito complexa e extensa e, portanto, não ser fácil de se condensar, tomou-se a iniciativa de se observar as Propostas Pedagógicas do Alinhamento Construtivo de John Biggs, elegendo a Metodologia da Sala de Aula Invertida, de Bergmann e Sams, as principais Práticas Pedagógicas. Por meio da criação de conteúdos autorais, seguidos das Metodologias Ativas, partiu-se da realidade direta e da experiência no cotidiano para atingir os objetivos fundamentais da Disciplina. Este Artigo apresenta o desenvolvimento e a reflexão sobre as práticas durante os anos de 2018 e 2019, no Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário UNA.

Palavras-chave: Alinhamento Construtivo; História da Arte; História da Arquitetura; Sala de Aula Invertida; Metodologias Ativas.

Abstract

The teaching/learning methodology developed for this discipline covers the entire history of art, architecture, and cities, from prehistory up to today. Once it is overly complex and extensive and, therefore, not easy to condense, it was observed the pedagogical proposals of John Biggs’ Constructive Alignment, choosing the methodology of Bergmann and Sams’s Flipped Classroom as the main pedagogical practices. Through the creation of authorial content followed by active methodologies, the starting point was direct reality and daily experience to achieve the fundamental objectives of the discipline. This article presents the development and reflection on practices during the years 2018-2019 in the Architecture and Urbanism course at Centro Universitário UNA.

Keywords: Constructive Alignment; Art History; History of Architecture; Flipped classroom; Active Methodologies.Edição 04 | Junho de 2021

Introdução

A Metodologia de Ensino/Aprendizagem aqui apresentada foi desenvolvida pelo autor para as Disciplinas de História da Arte, de Arquitetura e de Urbanismo, da Pré-história até os dias de hoje. O que está envolvido aqui não é um Método particular em si, conforme será apresentado, mas uma postura em relação ao Ensino, o que implica uma consciência focal do aluno e do mundo do aprendiz, em que o professor aborda os princípios e se apropria deles no contexto de sua própria atividade. Tradicionalmente, é uma Disciplina com um conteúdo erudito, na qual se faz necessária a apresentação de uma Gramática artística e arquitetônica junto aos elementos fundamentais.

O foco principal da inversão da sala de aula são as aulas expositivas, permitindo que o professor foque em competências durante as aulas presenciais. Tradicionalmente, a leitura de textos é a Metodologia de Aprendizagem mais adotada, seguida das aulas expositivas, vídeos e visitas técnicas. A Metodologia da Sala de Aula Invertida, seguida das Metodologias Ativas, propõe uma reorganização desses conteúdos, transportando-os, em parte, para o Meio Digital, permitindo o acesso remoto, de forma a gerar o aumento das possibilidades de pesquisa, estudo e práticas na aula presencial.

A inversão da sala de aula proposta aqui, em termos gerais, consiste no envio do conteúdo digital em vídeos e textos como dever de casa, enquanto o tempo de sala de aula é utilizado para atividades formativas e somativas. Se observarmos, esse princípio é comum e antigo, pois também fomos ensinados por meio de atividades, leituras de textos e livros como dever de casa.

Nos dias de hoje, a grande mudança está nas opções tecnológicas, como o vídeo e a Internet, entre outras. O ponto chave na inversão da sala de aula está no ajuste do tempo de estudo dos conteúdos ao cotidiano do aluno e às necessidades individuais, contribuindo com sua autonomia, permitindo que a aula presencial fique mais ativa e menos dedicada a aulas expositivas.

Para o professor, oferece vantagens, pois evita o desgaste de repetir intensamente aulas expositivas que podem ser registradas pelos meios tecnológicos. Enfim, a inversão da sala de aula promove a fusão ideal da instrução on-line e da instrução presencial. As novas gerações, acostumadas às Novas Tecnologias, crescem com acesso à Internet, ao Youtube e às demais Redes Sociais, e a inversão da sala de aula busca essa Linguagem, em vez de combatê-la.

As visitas técnicas, fundamentais para a Disciplina, destinam-se a aplicar os conhecimentos na própria realidade. Uma parte considerável dos estudantes tem escassos conhecimentos sobre a riqueza cultural de sua própria região, ignorando elementos fundamentais da Arqueologia, da Paleontologia, da Arte, da Arquitetura, do Patrimônio Natural, Ecossis temas e cidades.

Realizar uma atividade acadêmica que consista em uma análise estilística dos edifícios históricos da cidade promove, por exemplo, a revisão e a fixação dos conteúdos e dos conceitos vistos nas aulas expositivas e nas leituras dirigidas. Portanto, como professor, poderia utilizar minha carga horária com mais sabedoria em uma visita técnica a Ouro Preto, a Congonhas do Campo ou a Sabará, para uma aula sobre Barroco e Rococó, e disponibilizar parte da teoria em vídeos de minha autoria para serem estudados em casa no decorrer do semestre.

Uma aula in loco promove um engajamento comprovadamente superior, quebrando a monotonia das aulas expositivas das salas de aulas escuras e dos slides de História da arte, por mais ricos e interessantes que sejam. À medida em que os fundamentos são apresentados pelo professor (aulas expositivas, Referências Bibliográficas etc.), percebe-se um nítido engajamento dos estudantes, pois se relaciona-se a um impacto na realidade direta deles, nas suas relações afetivas e nas memórias de sua terra natal e de seus antepassados.

Dentre os resultados de aprendizagem pretendidos, destaco conhecer os principais personagens históricos relacionados à Disciplina, compreender os movimentos artísticos, arquitetônicos e urbanísticos históricos, observando a linha do tempo, analisar as relações entre os movimentos artísticos, arquitetônicos e urbanístico entre si, historicamente e na realidade direta, ou seja, como podem ser observados no nosso cotidiano, empregar em trabalhos, projetos e pesquisas interdisciplinares os conhecimentos obtidos na disciplina e desenvolver capacidades e habilidades sociais para trabalhos em equipe, observando os princípios de soft skills.

Fundamentos da Sala de Aula Invertida: Processo de Ensino/Aprendizagem

Bergmann e Sams (2018) demonstram que aulas mal planejadas consomem tempo e promovem desgaste de ambos os lados, do docente e do discente. Design atrasado atrasa o conteúdo. Nos dias de hoje, é fundamental a adoção de práticas on-line para atingir esses objetivos, por meio de conteúdo on-line que permita ao professor, em sala de aula, substituir gradualmente longos períodos de aulas expositivas, que podem ser enfadonhas, por uma proposta de engajamento mais ativo e participativo. O professor consegue contornar, pela Sala de Aula Invertida, problemas de ordem e de comportamento, como visto nas conversas excessivas e abusivas em sala de aula, durante as aulas expositivas, que tanto são citadas pelos professores como motivo de desgaste e perda de tempo (BERGAMNN; SAMS, 2018, p. 26).

Figura 1 – Frame da videoaula de Baixa Idade Média (Românico) disponível privadamente no Youtube. Fonte: Foto do autor.

A produção de conteúdo pelo próprio professor é uma opção rica e confiável na Metodologia, pois confere autoridade ao docente, como apontam Bergmann e Sams (2018). Toda a experiência acumulada do professor tem o potencial de se tornar conteúdo, como, por exemplo, fotos de viagens ao exterior, ao interior, trabalhos acadêmicos passados, pesquisas antigas, arquivos antigos, fotos de família etc.

O professor pode, também, utilizar materiais de terceiros, observando as questões de direitos autorais e propriedade intelectual. Para os autores, o bom professor constrói relacionamentos com os alunos, e estes precisam de modelos positivos. É importante lembrar-se de que, no início das aulas, a Metodologia da Sala de Aula Invertida seja apresentada e esclarecida no Ambiente de Aprendizagem ao aluno, para que não haja dúvidas e equívocos, como, por exemplo, não seja confundida com uma metodologia EAD ou Disciplina híbrida, ou que, porventura, o aluno pense que o professor esteja apenas evitando trabalho passando vídeos aos alunos.

Dessa forma, as aulas gravadas não têm caráter formal, como se fossem gravadas com um teleprompter em um estúdio, mas têm uma forma mais espontânea, com improvisos, sem, no entanto, perder a qualidade e o foco. Segundo os autores, o professor deve dominar o conteúdo, e o professor que não for proficiente no conteúdo não poderá atuar em uma sala de aula invertida (BERGMANN; SAMS, 2018, p. 50).

O professor não pode apenas passar vídeos: a leitura deve ser estimulada (1). Os grandes autores devem ser lidos. Quero deixar claro que considero as aulas expositivas fundamentais, e que não podem ser sistematicamente abandonadas, a partir dos fundamentos da Sala de Aula Invertida. Pequenas aulas expositivas são feitas para fechar as lacunas detectadas na aprendizagem, nas quais o professor avalia, com uma Metodologia Ativa, como o Socrative, quando determinado assunto não ficou bem claro para os estudantes.

Figura 2 – Frame da videoaula de Renascimento. Arquitetura Brunelleschi II. Disponível privadamente no Youtube. Fonte: Foto do autor.

Como exemplo, costumo citar uma aula complexa e difícil, que ilustra bem uma aplicação da inversão da sala de aula. O Renascimento italiano não é um assunto fácil e requer do estudante um bom nível de conhecimentos gerais: base de História Geral, conhecimentos sobre a Idade Média, as civilizações, os reinos, os impérios e as Repúblicas do Período, Economia, Guerras, Cultura, Mapas, enfim, uma infinidade de dados importantes que devem ser cruzados para que possamos falar da Arte e da Arquitetura renascentistas.

Do professor, é cobrada muita energia e paciência para abordar assuntos tão complexos e eruditos para turmas tão heterogêneas. Seria impossível usar a carga horária para expor o conteúdo. Além do mais, as aulas se tornariam enfadonhas, por mais que o assunto seja cativante. Para chegar a Leonardo da Vinci e a Michelangelo, é necessário falar um pouco dos gigantes, como Dante, Petrarca e Brunelleschi e, sendo assim, as aulas gravadas auxiliam na tarefa de expor o conteúdo. Além dos vídeos, são cobrados textos, que jamais devem ser deixados de ser cobrados.

Figura 3 – Visita técnica a Ouro Preto, com as turmas de Arquitetura e Urbanismo, durante as aulas sobre Barroco, Rococó e história de Minas Gerais. Fonte: CORRÊA, 2015

Para Jenkins e Healey (2013), a introdução de novas tecnologias e ambientes virtuais devem ser variada, eficaz e presente no cotidiano dos alunos. Os próprios alunos podem contribuir nesse processo, por serem de uma geração mais familiarizada com as Novas Tecnologias. Alunos mais experientes e interessados devem ser estimulados a se tornarem monitores e colaboradores dentro do ambiente universitário, promovendo uma efetiva aprendizagem entre pares, gerando confiança entre eles.

Historicamente, essa proposta metodológica de ensino/aprendizagem observa fundamentos pedagógicos que remetem às tradições da Pedagogia Ativa como precursora de determinadas práticas contemporâneas. Porém, o que está envolvido aqui não é um método particular gessado, ou um modismo contemporâneo, mas uma atitude em relação ao Ensino, com influências de diversos ambientes ideológicos e observando as tradições pedagógicas ocidentais, já que minha formação está completamente contaminada pelas referências da Arte, da Arquitetura e do pensamento filosófico e pedagógico.

Entre elas, destaca-se o Método Socrático e o Platônico, a filosofia de Aristóteles, as Sete Artes Liberais medievais, o ensino jesuíta no Renascimento, as teorias iluministas de Humboldt e as demais Teorias Pedagógicas modernas, como nos ensinam, por exemplo, Pestalozzi, Montessori ou Dewey, o que implica uma consciência focal do aluno e do mundo do aprendiz, assim como a transmissão do conhecimento erudito do professor por meio da tradição e da inovação. A Dissertação de Mestrado do autor deste Artigo, intitulada Laboratório de cor: paradigmas do estudo da cor na contemporaneidade (2013), aborda, entre outros assuntos, um panorama pedagógico das Academias de Arte no Ocidente.

Figura 4 – Visita técnica a Congonhas do Campo para análise do patrimônio histórico, incluindo a Basílica do Bom Jesus e Museu de Congonhas Fonte: CORRÊA, 2016

Neste momento, cabe destacar a figura de John Dewey e o pragmatismo2 de Charles S. Pierce, fundamentais para o desenvolvimento acadêmico das Artes, da Arquitetura e do Design, no século XX, como foi proposto pela icônica Escola Bauhaus, na primeira metade do século XX, sem, no entanto, alinhar-se diretamente com elas. Para Dewey, a experiência não se reduz ao conhecimento teórico, mas engloba também os Sistemas Empíricos Científicos, mas também crenças, superstições, coisas nobres, honrosas, verdadeiras, assim como as desfavoráveis, irracionais e odiosas.

Segundo Dewey, sabe-se que a comédia nos atinge de forma mais confortável, porém as tragédias nos atingem com maior profundidade. Ele acredita que a Pedagogia, suas práticas e suas investigações partem de problemas, experimentos e soluções que podem ser aceitas ou rejeitadas, formando um Processo de Ensino e Aprendizagem.

Figura 5 – Aula de Teoria da Cor na prática. Centro Universitário UNA. Fonte: CORRÊA, 2016

Reale e Antisere, historiadores da Filosofia, descrevem, em sua História da Filosofia, o pragmatismo como uma forma do Empirismo tradicional nos Estados Unidos da América, em que Pierce afirma que o conhecimento e a pesquisa partem da dúvida, e o Método Científico seria o método correto para alcançar crenças válidas. Para os pragmatistas e para Dewey, tanto o conhecimento acumulado historicamente como a experiência sensível são normas de ação e, para a Educação, Fundamentos Pedagógicos de uma Escola Ativa.

Nos dias de hoje, o Alinhamento Construtivo, segundo John Biggs, possui duas linhas de pensamento que estão se tornando cada vez mais importantes na prática do ensino: a primeira deriva das Teorias de Aprendizagem Construtivistas e a segunda da Literatura de Design Instrucional. O Construtivismo compreende uma família de Teorias, mas todas têm em comum a centralidade das atividades do aprendiz na criação de significado.

Em termos gerais, o Alinhamento Construtivo representa um casamento das duas linhas por meio do Construtivismo, sendo usado como uma estrutura para guiar a tomada de decisões em todo design instrucional: na derivação de objetivos curriculares em termos de desempenhos que representam nível cognitivo adequado, na decisão de atividades de ensino/aprendizagem julgadas para suscitar performances, e para avaliar e resumir o desempenho dos alunos. Os feedbacks são importantes nesse processo, pois determinam os sucessos dele, que podem ser descritos como somativos e formativos. A Sala de Aula Invertida funciona aqui, junto com as Metodologias Ativas, como um GPS que recalcula a todo momento uma rota desviada para atingir o destino certo.

A formação baseada no currículo privilegia o Alinhamento Construtivo proposto por John Biggs, no qual o aluno deve participar da construção do conhecimento e do conteúdo de maneira ativa, evitando uma situação de passividade e acomodação diante do Curso. O compromisso com a erudição, para a História da Arte e da Arquitetura, permeia o conhecimento das obras clássicas e populares. A aprendizagem deve ser profunda e ser lembrada em longo prazo, enquanto a marca do Ensino Superior é o compromisso com a qualidade e com a erudição (JENKINS; HEALEY, 2013).

A taxonomia SOLO, de Biggs, foi observada da seguinte forma, pensando no nosso padrão do ENADE para provas e avaliações:

1. Pré-estrutural. Questões fechadas, múltipla escolha, resposta única. Nível fácil;

2. Uniestrutural. Questões fechadas, múltipla escolha, resposta múltipla (similar ao Verdadeiro e Falso). Nível fácil e médio;

3. Multiestrutural. Questões tipo asserção-razão. Nível médio;

4. Relacional. Questões tipo Interpretação, definir conceito ou problema a partir da organização de ideias, dados ou informações para resolvê-la ou entendê-la;

5. Resumo estendido. Questão discursiva, aberta, contextualizando o assunto de forma a vinculá-lo a um fato ocorrido nos tempos atuais, por meio de um pequeno texto. Será avaliada a clareza, a coerência, a coesão, as estratégias argumentativas, a utilização de vocabulário adequado e a correção gramatical do texto.

Concordo com Biggs quando afirma que o problema real da aula é quando a atividade dos alunos é baixa e passiva. Alguns alunos podem encontrar em uma palestra a chave para o entendimento, porém seu colega ao lado não terá a mesma percepção. Vale lembrar que o professor não é o único agente responsável pelo aprendizado, pois esta é uma atividade individual e social, na qual o professor tem grande controle sobre as atividades de ensino.

Os alunos também devem ser estimulados a realizar atividades espontâneas e tirar suas próprias conclusões. Portanto, adotar nas aulas de Teoria (história) um equilíbrio entre aulas expositivas on-line e presenciais, trabalhos em grupos dirigidos, trabalhos em grupos autoavaliados pelos próprios alunos, avaliações com consulta (para domínio da Bibliografia Básica), avaliações sem consulta, pesquisa de campo (para verificar, na realidade, os conteúdos estudados), viagens e visitas técnicas, além das avaliações tradicionais da Instituição só aumentam a qualidade do Ensino e das Práticas Pedagógicas.

De acordo com Goodyear (2014), por meio de suas quatro estratégias de aprendizagem, consideram-se as Metodologias Ativas uma excelente estratégia para feedback, pois destina-se a reduzir discrepâncias entre o que a pessoa sabe e o que é capaz de saber e o que ele deve ser capaz de saber e fazer. Esse feedback deve ser claro, direto e com base em critérios claramente específicos, pois ele afeta os indivíduos emocional (como motivação, desmoralização e desapontamento) e tecnicamente.

O feedback pode ser formativo ou somativo, de forma a fechar determinados ciclos de aprendizagem, e auxilia a aprendizagem autodirigida, que envolve contar ou mostrar ao supervisionado como se faz uma determinada atividade. É a mais frequente dentro das estratégias de aprendizagem. Ela expõe ao grupo ou indivíduo questões socráticas, que devem ser respondidas por um exercício de autoavalição, debates e autoquestionamentos, informando o aluno sobre o seu próprio desempenho.

Como dito na Introdução, uma parte considerável dos estudantes tem escassos conhecimentos sobre a riqueza cultural de sua própria região, ignorando elementos do patrimônio cultural. Durante os encontros presenciais em São Paulo, no Curso da Universidade da Fin lândia, na Universidade São Judas Tadeu, em 2018, comentou-se que, como exemplo, uma parte considerável dos alunos de Belo Horizonte e região desconhecem a importância arqueológica dos sítios de Lagoa Santa e região, em Minas Gerais, dentro do contexto da Paisagem Cultural.

À medida em que os fundamentos são apresentados pelo professor (aulas expositivas, Referências Bibliográficas etc.), percebe-se um nítido engajamento dos estudantes, pois se relaciona a um impacto na realidade direta, que mexe também com as relações afetivas e com a memória de suas terras natais e antepassados. A partir desse ponto de vista, o ensino inclusivo deve ser observado e estimulado, por meio dos seguintes pontos:

• Diversidade cultural;

• Respeito às diversas personalidades;

• Atenção à inclusão, à flexibilidade e à colaboração;

• Positividade e atitudes construtivas;

• Respeito e compreensão da diversidade cultural em ambientes com interação entre estrangeiros.

Figura 6 – Visita técnica ao centro histórico de São Paulo com a turma de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário UNA. Fonte: CORRÊA, 2019.

As relações entre Educação e Patrimônio podem partir de fundamentos tradicionais de memória e identidade, oriundos de uma formação oficial, como ocorre nas Instituições religiosas e governamentais e, também, a partir de manifestações populares e espontâneas, “extraoficiais”, por vezes marginalizadas, em determinados contextos. Sendo assim, considera-se fundamental a relação de tensão entre tradição e contemporaneidade para a abordagem de um vasto campo de pesquisa relacionado ao conceito amplo de patrimônio.

As relações entre Educação e Patrimônio objetivam o reconhecimento, em um nível mais básico, e a formação profissional, em um nível mais avançado, de indivíduos capazes de se reconhecerem e de atuarem sobre sua própria história cultural. Portanto, é importante observar que o tema pode ser entendido como um meio de afirmação da cidadania, visando a uma percepção abrangente da pluralidade cultural brasileira e mundial.

A Educação Patrimonial torna-se um poderoso instrumento no processo de reencontro do indivíduo consigo mesmo, resgatando sua autoestima por meio da revalorização e da reconquista de sua própria cultura e identidade, do perceber seu entorno e a si mesmo, em seu contexto cultural como um todo, convertendo-se em principal agente de transformação. O amplo conceito de patrimônio cultural abrange não só os bens móveis e imóveis, mas toda a herança imaterial que se estabelece entre o homem e o meio, como celebrações, formas de expressão (manifestações artísticas, em geral), tradições culinárias, danças, lugares etc.

Posteriormente, tem-se a oportunidade de refletir sobre como as cidades constantemente se transformam, por diversas forças e fatores, e como impasses e soluções são gerados diante de tais realidades, levando em consideração a interação entre os edifícios, obras e as questões urbanas em escala maior e, principalmente, o aluno como agente potencial em diversas situações.

Considerações Finais

Na inversão da sala de aula, o aluno assume a responsabilidade pela própria aprendizagem, pois, no modelo tradicional anterior, os alunos se acomodavam em esperar e receber as instruções. O ônus do aprendizado é do aluno, em que ele toma posse de sua própria aprendizagem, pois o professor também renunciou ao comando total do processo e converte o aprendizado à legítima conquista do estudante. A Sala de Aula Invertida é, como dito, como um GPS que recalcula a todo momento uma rota desviada para atingir o destino certo. Novos aprimoramentos são repensados no sentido de atualizar tanto os conteúdos quanto as competências, da mesma forma que novas Bibliografias são inseridas na construção da Disciplina.

Os resultados obtidos são panoramas do realizado durante a Disciplina, com suporte das planilhas do Socrative e questionários enviados aos alunos por meio da Plataforma Google Docs. Os alunos, de forma geral, nos Cursos de Arquitetura e Urbanismo e Design (Gráfico, Interiores e Moda), enxergam a Universidade como a etapa mais importante na sua formação profissional. Eles consideram que as Universidades fornecem base teórica e prática, de forma equilibrada. É importante ressaltar que, em um campus no qual o autor do Artigo leciona, em uma área mais nobre e valorizada da cidade, a maioria dos pais dos estudantes tem formação superior. No outro campus, mais distante, afastado do centro da cidade, cerca de 30% dos pais dos estudantes têm formação superior.

A partir disso, ele foi informado de que, no caso de vários estudantes, eles serão os primeiros de toda a família a terem formação superior, o que os torna muito orgulhosos e confiantes. Sobre Pós-graduação, foi perguntado a respeito das expectativas de continuidade dos estudos e, uma maioria considerável, cerca de 60% dos estudantes, acredita que a continuidade dos estudos em um Curso de Pós-graduação na Área ou em Áreas afins é fundamental. Os demais ainda não tinham posição definida. Os alunos concordaram que os professores universitários devem entender que o mundo dos alunos está repleto de desafios e dificuldades, como conciliar os estudos e o trabalho. A maioria deles estuda no período noturno e depende de seus trabalhos para manter os estudos. De certa forma, sentem-se muito inseguros sobre o futuro e o Mercado de Trabalho, diante das profundas mudanças que o Brasil vem atravessando.

Eles consideram o estudo gratificante quando percebem uma aplicação direta na realidade e que existem possibilidades concretas de inserção em boas Empresas, como profissionais autônomos e como empreendedores. Entretanto, frustram-se ao saber que muitas profissões podem se tornar obsoletas em um futuro próximo. Os alunos se sentem muito atentos quando a aprendizagem é presencial, pois valorizam o contato pessoal com o professor, e argumentam que têm melhor desempenho nas Disciplinas presenciais. Porém, mostram-se receptivos ao Ensino a Distância, desde que seja feito com muito cuidado e qualidade, seja no Material Didático, seja na sua aplicação e, especialmente, nas Tecnologias de Informação e Plataformas Digitais. O desempenho superficial acontece, segundo os estudantes, quando um professor apenas transmite o conteúdo básico e genérico ou quando o Material Digital é inferior ao que pode ser obtido facilmente na Internet.

(1) Em uma avaliação de 10 pontos, por exemplo, podem ser distribuídas proporcionalmente questões baseadas em vídeos autorais (30%), textos da Bibliografia (30%), visita técnica (30%) e pesquisa livre (10%).

Referências bibliográficas

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Publicado por Marcelo Albuquerque

Pintor, desenhista, professor, escritor. Áreas de atuação: Artes plásticas, Arquitetura e Urbanismo, Comunicação, Design e Educação. Professor universitário especialista nas disciplinas de História da Arte, História da arquitetura, Desenho Artístico, Pintura e Patrimônio. Atualmente leciona no grupo Ânima Educação (UNI-BH e Centro Universitário UNA), nas graduações de Arquitetura e Urbanismo, Design Gráfico, Design de Moda e no curso tecnólogo de Design de Interiores. Mestre em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes - UFMG (2013); especialista em História da Arte pela PUC MG (2008). Especialista em Ensino e Aprendizagem na Educação Superior pelo Instituto Ânima São Judas Tadeu - SP (2020), bacharel em Artes pela Escola de Belas Artes - UFMG (2003). Graduando em Licenciatura em História pelo Centro Universitário Ítalo-Brasileiro. Possui em seu currículo mais de 40 exposições artísticas e 2 livros publicados. Criador do curso online Arte e Culturas (Hotmart e Youtube). Acesse o linktree para mais detalhes: https://linktr.ee/estudioalbuquerque.