Breve história da cidade de Roma

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Por Marcelo Albuquerque

A história da cidade de Roma é um testemunho vivo da evolução da civilização ocidental, começando pela sua fundação envolta por mitos que misturam o humano e o divino. De acordo com a tradição, Roma foi fundada em 753 a.C. por Rômulo e Remo, gêmeos abandonados às margens do Tibre, criados por uma loba e destinados à grandeza. Após um conflito, Rômulo matou Remo e estabeleceu a cidade que leva seu nome, situando-a no Monte Palatino. Este monte, juntamente com os demais das chamadas Sete Colinas, como o Capitólio, tornar-se-ia o núcleo inicial da urbe que dominaria o Mediterrâneo e moldaria o destino de várias culturas. A lenda, embora enraizada em tradições orais, reflete aspectos essenciais da Roma primitiva: a força, a estratégia e a habilidade de transformar adversidades em poder.

O Fórum Romano, centro da vida pública desde os primórdios, simboliza a ascensão de Roma como um espaço de inovação social, militar e política. Originalmente uma área pantanosa entre o Palatino e o Capitólio, foi drenada pelos primeiros reis para se tornar o epicentro político, religioso e comercial da cidade. Durante a República, o Fórum viu discursos célebres, decisões cruciais e intrigas que influenciavam não apenas a cidade, mas todo o mundo romano. Monumentos como a Cúria, o Comitium e as basílicas eram testemunhas de debates que definiram leis e acordos militares. A crescente monumentalidade do Fórum refletia o poderio de Roma, em um processo que envolvia arquitetos e engenheiros como Vitrúvio, autor de De Architectura, um dos tratados mais influentes da antiguidade.

O Palatino, onde a lenda situa a fundação de Roma, tornou-se o bairro aristocrático da cidade. Durante a República, as famílias mais ricas e poderosas construíram suas residências no monte, enquanto no Império, elas se transformaram no centro do poder imperial. O imperador Augusto, o primeiro do Império Romano, construiu ali a Casa de Augusto, estabelecendo uma tradição que seria seguida por seus sucessores. Este local, cercado por vistas que abrangiam o Fórum e o Circo Máximo, representava a interseção entre o poder político e a magnificência arquitetônica, com nomes como Apolodoro de Damasco contribuindo para o esplendor arquitetônico do período imperial.

O Capitólio, portanto, representava o núcleo espiritual e militar de Roma. No alto de sua colina, situava-se o Templo de Júpiter Capitolino, dedicado à tríade capitolina de Júpiter, Juno e Minerva, que simbolizava a supremacia de Roma sobre seus inimigos. Durante a Idade Média, porém, o Capitólio caiu em relativa obscuridade, embora mantivesse seu simbolismo. Foi somente no Renascimento, sob o desenho de Michelangelo Buonarroti, que o Capitólio foi reimaginado como a sede do governo secular, em um plano que estabeleceu a Praça do Capitólio como um marco de ordem urbanística e monumentalidade renascentista.

Na era da Monarquia Romana, os primeiros reis, como Rômulo e Tarquínio Prisco, instituíram as bases da sociedade romana, desde a organização política até a construção de obras essenciais como o sistema de esgoto conhecido como Cloaca Máxima. Este período viu a consolidação de práticas religiosas, como os rituais augurais, que associavam o destino da cidade ao favor dos deuses. A transição para a República, em 509 a.C., marcou um ponto crucial na história de Roma, estabelecendo um sistema governamental baseado em magistraturas e no Senado. Durante a República, Roma expandiu seu território por meio de conquistas e alianças, construindo uma rede de estradas e aquedutos que fortalecia sua posição no Mediterrâneo.

Com a ascensão de César Augusto ao poder, Roma tornou-se um império, e sua paisagem urbana foi transformada para refletir essa nova era. O “Ara Pacis Augustae” e o Panteão, reformulado por Adriano, são exemplos da grandiosidade arquitetônica do período. A cidade tornou-se um epicentro de cultura e poder, atraindo artistas e arquitetos de todo o mundo romano. Durante o reinado de imperadores como Trajano, o Fórum, com sua coluna comemorativa, representava tanto o poder militar quanto a sofisticação artística de Roma.

Com a queda do Império Romano do Ocidente em 476 d.C., Roma entrou em um período de declínio durante a Idade Média, quando sua população diminuiu drasticamente e suas grandes construções foram reutilizadas ou abandonadas. A cidade, porém, permaneceu como um centro espiritual para o cristianismo, com a construção de basílicas como Santa Maria Maior e São Pedro. Durante este período, o papado desempenhou um papel crucial na preservação de parte da herança cultural e arquitetônica da Roma antiga.

No Renascimento, Roma renasceu como um centro artístico e cultural, impulsionado pelos papas renascentistas. Artistas como Rafael e Michelangelo contribuíram para transformar a cidade em um laboratório de inovações artísticas. A Capela Sistina, com seus afrescos de Michelangelo, e a Basílica de São Pedro, projetada por uma equipe de arquitetos incluindo Bramante e Bernini, são testemunhos da ambição e do esplendor do Renascimento romano.

O período barroco, com suas reformas urbanas, trouxe uma nova monumentalidade à cidade. Sob o papa Sisto V, grandes avenidas foram abertas para conectar as igrejas de peregrinação, enquanto Bernini e Borromini criaram obras-primas como a Praça de São Pedro e a Igreja de San Carlo alle Quattro Fontane. O livro Roma Antiga: para artistas, arquitetos e viajantes, de minha autoria, oferece um estudo detalhado sobre este período, apresentando as contribuições de artistas que transformaram Roma em um palco para a grandiosidade barroca.

Na modernidade, Roma enfrentou desafios significativos, desde a unificação da Itália no século XIX até os projetos de renovação urbana do século XX, que alteraram drasticamente partes da cidade. Sob Mussolini, avenidas como a Via della Conciliazione foram abertas, conectando o Vaticano ao restante da cidade. Embora controversas, essas intervenções refletem a tentativa de moldar uma Roma moderna sem perder sua identidade histórica.

Roma hoje é um palimpsesto, onde cada camada de sua história é visível em sua arquitetura, urbanismo e cultura. Combinando o passado antigo à vitalidade do presente, continua a inspirar artistas, arquitetos e viajantes. Explorá-la é mergulhar em um diálogo contínuo entre as eras, uma narrativa que reafirma sua posição como um dos maiores centros da civilização ocidental.


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Publicado por Marcelo Albuquerque

Pintor, desenhista, professor, escritor. Áreas de atuação: Artes plásticas, Arquitetura e Urbanismo, Comunicação, Design e Educação. Professor universitário especialista nas disciplinas de História da Arte, História da arquitetura, Desenho Artístico, Pintura e Patrimônio. Atualmente leciona no grupo Ânima Educação (UNI-BH e Centro Universitário UNA), nas graduações de Arquitetura e Urbanismo, Design Gráfico, Design de Moda e no curso tecnólogo de Design de Interiores. Mestre em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes - UFMG (2013); especialista em História da Arte pela PUC MG (2008). Especialista em Ensino e Aprendizagem na Educação Superior pelo Instituto Ânima São Judas Tadeu - SP (2020), bacharel em Artes pela Escola de Belas Artes - UFMG (2003). Graduando em Licenciatura em História pelo Centro Universitário Ítalo-Brasileiro. Possui em seu currículo mais de 40 exposições artísticas e 2 livros publicados. Criador do curso online Arte e Culturas (Hotmart e Youtube). Acesse o linktree para mais detalhes: https://linktr.ee/estudioalbuquerque.