PALESTRA DESTACA VÍNCULOS ENTRE SACROMONTES EUROPEUS E ARTE SACRA MINEIRA

Por Domingos Costa

O Professor Marcelo Albuquerque Corrêa apresentou trajetória simbólica dos montes sagrados e destacou Congonhas como síntese da espiritualidade barroca No dia 10 de maio, o Auditório Dermeval Pimenta, em Belo Horizonte, sediou a palestra “Sacromontes: de Portugal à Congonhas”, ministrada pelo professor Marcelo Albuquerque Corrêa, associado efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG). A atividade, que contou com apresentação do também associado Dr. Antônio Carlos de Albuquerque, atraiu estudiosos, pesquisadores e interessados em arte sacra e religiosidade popular.

Durante a conferência, Corrêa traçou uma análise histórica e simbólica da tradição cristã de associar montanhas a experiências espirituais e de revelação divina. Conforme explicou, desde os tempos bíblicos, o imaginário religioso elevava as montanhas ao papel de lugares de transição, ascensão e encontro com o sagrado — como nos casos do Sinai, do Tabor e do Carmelo. A estrutura geográfica do Purgatório descrita por Dante na Divina Comédia, em forma de monte escalonado rumo ao Paraíso terrestre, também foi apontada como um marco simbólico que viria a influenciar os Sacromontes católicos da Europa.

“Esses montes representavam não apenas um caminho físico, mas um itinerário espiritual, pedagógico e meditativo”, afirmou Corrêa. Entre os séculos XV e XVIII, tal modelo se materializou em complexos arquitetônicos e escultóricos, sobretudo na Itália setentrional e em Portugal. Os Sacromontes de Varallo, Varese, Braga e Lamego foram citados como referências fundamentais para entender a articulação entre paisagem, arte e catequese visual.

Em Portugal, a tradição foi adaptada à geografia local e à estética barroca lusa. Segundo Corrêa, essa herança foi reelaborada no contexto colonial brasileiro, particularmente em Minas Gerais, durante o século XVIII. O Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, foi apresentado como a mais notável tradução dessa experiência europeia em solo mineiro.

O conferencista destacou a obra de Antônio Francisco Lisboa, como elemento central desse processo. As esculturas dos Profetas e as capelas dos Passos foram analisadas como expressões de uma síntese estética entre o barroco português e a religiosidade popular mineira. “Trata-se de um conjunto em que escultura, arquitetura e paisagem dialogam para criar uma experiência espiritual total. O fiel não apenas observava: ele caminhava, contemplava e se transformava”, pontuou.

O professor Marcelo também examinou os estilos presentes no Brasil colonial — como o barroco, o rococó e o neoclássico — e mostrou como essas influências europeias foram reinterpretadas em Minas Gerais, dando origem a uma linguagem artística própria. O Santuário de Congonhas, ressaltou ele, espelhava uma fé encenada em pedra-sabão e madeira policromada, profundamente enraizada na geografia da fé e no imaginário escatológico do catolicismo barroco.

Ao término da apresentação, o público manifestou entusiasmo diante da profundidade da análise e da clareza com que o conferencista articulou os laços entre tradição europeia e criação mineira.

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